Próstata

A próstata é um órgão do sistema genital masculino e está sujeita a vários tipos de doenças que podem aparecer em qualquer idade, não sendo, portanto, um problema de saúde exclusivo de idosos. A função dessa estrutura consiste na produção de substâncias que participam na formação do líquido seminal e na atividade sexual.

 A próstata tem uma particularidade em relação aos outros órgãos de nosso corpo: Ela cresce continuamente, mesmo nas idades mais avançadas. Desse modo, todos os homens, cedo ou tarde, terão algum grau de aumento prostático. Isso se chama aumento benigno da próstata, o qual deve ser diferenciado do câncer da próstata que é uma doença sem relação com o crescimento normal do órgão. Como quase todos os homens terão um aumento do tamanho da sua próstata ao longo da vida, o dado mais importante é o exame de detecção precoce do câncer da próstata, que visa diferenciar aqueles casos benignos da doença maligna. 

 

Qual a chance de um homem ter câncer de próstata?


O câncer de próstata é o câncer masculino mais frequente no Brasil e é a segunda maior causa de mortalidade por esse tipo de doença, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Nos Estados Unidos, um em cada 6 homens serão diagnosticados como portadores de câncer de próstata. Embora o câncer de próstata seja a neoplasia maligna mais frequente, ela perde para o câncer de pulmão em termos de mortalidade. Isso é explicado pelo fato que a doença na próstata apresenta um comportamento particular, quanto mais o homem envelhece, maior a chance dele apresentar câncer de próstata. Pesquisas realizadas em indivíduos acima de 80 anos que morreram por outras causas e que foram submetidos a estudos em suas próstatas, mostraram que até 80% deles tinham câncer de próstata, mas esses tumores, embora malignos, eram poucos agressivos e não foram descobertos em vida. Ao contrário do tumor de pulmão, muitos pacientes com câncer de próstata terão uma sobrevida maior, daí o fato da menor taxa de mortes por essa doença.

 

Quando devo começar a procurar um urologista para realizar exames de rotina?


Visto que o câncer de próstata atinge homens com idade mais precoce, preconiza-se hoje os exames anuais para check-up a partir dos 45 anos. Caso haja história de familiares (pai, irmãos, etc.), a revisão deve ser mais precoce, a partir dos 40 anos de idade.

Necessário se faz salientar que o exame de próstata não é preventivo, ou seja, você não ficará livre da doença se fizer o exame apenas uma vez. O check-up apenas detecta aqueles casos de câncer numa fase mais precoce, na qual ainda existe possibilidade de cura. O melhor método para detecção é a comparação dos exames, ano após ano. O check up ideal seria, portanto, uma visita ao mesmo especialista todo ano, o qual teria condições de comparação dos resultados obtidos nos exames anteriores.

 

Que tipo de exame devo fazer? É mesmo necessário um acompanhamento de um urologista?


O exame de próstata de rotina envolve o PSA e o toque retal. O PSA e um exame de sangue cujo resultado é rápido e muito útil para o seu médico. Para sua coleta, existem alguns cuidados que devem ser discutidos com o profissional que o solicitou e que são muito importantes, porque podem haver variações nos seus valores devido a fatores que alteram os seus resultados. Relação sexual, atividade física como andar de bicicleta, alguns procedimentos médicos que de alguma maneira estimulam a próstata podem falsamente elevar o valor do exame sem você ter câncer. Portanto, converse com seu urologista e ouça com atenção os cuidados antes de colher o PSA. Quanto ao resultado, de modo geral, valores acima de 2,5 requerem maior atenção. O que você precisa saber é que o PSA sofre uma série de interferências e varia muito de acordo com tamanho da próstata e sua idade, portanto somente seu urologista pode avaliar se essas oscilações permitem um controle adequado de sua próstata. A principal informação que seu médico obtêm com o PSA é a variação no seu valor de um ano para outro, por isso mais uma vez fique ciente que o check up anual é indispensável para a detecção precoce do câncer de prostático.

Agora vamos falar do grande empecilho ao homem para procurar um urologista: o exame do toque retal. O exame da próstata feito por seu médico é indispensável, mas infelizmente o que mais acontece em consultórios são homens com 60 ou 70 anos que se gabam de nunca ter feito o exame do toque, como se isso fosse alguma prova de masculinidade. Infelizmente, apesar de toda a orientação na imprensa, grande parte dos homens acima de 45 anos tem medo do exame e não vão ao consultório do urologista. Quando vão, já pedem o exame de sangue dizendo que outros médicos sempre pediram somente o PSA e que tudo está normal. Não está. Nada substituiu o toque retal, até 25 por cento dos pacientes com PSA normalmente tem câncer de próstata, principalmente os mais jovens, portanto o toque é indispensável. Esqueça de informações que dizem o contrário, preocupe-se com sua saúde, faça o exame, mesmo com vergonha, pois é natural que a tenha. Na hora da consulta, lembre-se que seu médico faz esse exame em todos os homens, você não será o primeiro e nem o último.

Alguns exames podem ser solicitados de acordo com a situação e fazem parte da rotina de avaliação da próstata, como por exemplo o ultrassom, exame laboratorial de urina, fluxometria e outros.

 

Se eu descobrir que tenho câncer de próstata o que devo fazer?


Uma vez que o resultado da biópsia seja positivo para câncer, geralmente ele virá classificado num sistema chamado gleason. Essa escala vai até 10, quanto maior o número maior será a necessidade de um tratamento mais agressivo contra sua doença. Seu médico irá necessitar de uma série de exames para tentar determinar a extensão da doença e o melhor método de tratamento. Para tanto, ele poderá solicitar alguns dos seguintes exames:


1- Cintilografia óssea: Consiste na introdução de contrastes radioisotópicos com a finalidade de procurar metástases (focos de tumor) nos ossos. É um exame indolor e de fácil realização e que vai mostrar áreas de concentração do contraste (geralmente difosfonato de tecnécio) em locais com anormalidades ósseas.


2- Tomografia computadorizada, ressonância magnética, radiocintilografia, pet scan são exames mais sofisticados que são utilizados para tentar avaliar invasão e disseminação do câncer nos órgãos vizinhos da próstata bem como a distância.

 

Quais os tipos de tratamentos que existem para o câncer de próstata?


Uma vez feito o diagnóstico e avaliada a extensão da doença, seu médico irá colocá-lo a par das opções de tratamento existentes para o seu caso. Entenda que não existe um único método aplicável para todos os pacientes, tudo vai depender de fatores como idade, grau e extensão da doença, efeitos colaterais do tratamento, enfim, você deverá estar informado sobre as opções para o seu caso e participará ativamente na escolha do método de acordo com o que for exposto por seu urologista. As modalidades de tratamento são:


1- Cirurgia para retirada da próstata- tecnicamente conhecida como prostatectomia radical, consiste na retirada completa do órgão, sendo a primeira escolha quando se pensa em cura da doença. Existem várias modalidades de prostatectomia radical, sendo a escolha do método variável de acordo com preferências do cirurgião e do paciente. Pode ser convencional, com um corte na parede inferior do abdômen ou via perineal, ou laparoscópica, que consiste na retirada da próstata por vídeo por meio de pequenas incisões na pele e no umbigo. Mais recentemente, a prostatectomia robótica, no Brasil, tem sido realizada em poucos locais e com custos ainda altos. As técnicas mais modernas buscam os mesmos resultados de cura da doença com menor taxa de complicações operatórias. Todas as técnicas buscam a retirada completa do tumor. Antes de aceitar a cirurgia, você deve estar ciente das complicações possíveis decorrentes do procedimento. A impotência sexual e a incontinência urinária são efeitos adversos possíveis de ocorrerem, independentemente do tipo de cirurgia realizada (laparoscópica, convencional ou robótica). Essas complicações também ocorrem com outros métodos de tratamento, como a radioterapia, só que de maneira diferente e com intensidade variável. Nenhum método está isento de risco, o que você deve compreender é que somente um diálogo aberto e confiável com seu médico poderá esclarecer suas dúvidas e tornar possível sua participação na decisão do tratamento a ser utilizado.


2- Radioterapia: Consiste na utilização de radiação para o tratamento do câncer. Tem por finalidade a destruição das células cancerosas, mas também afeta tecido sadio. Tem como efeitos colaterais ardência ao urinar, queixas intestinais e sangramentos, bem como impotência e incontinência urinária. Mais recentemente observamos o uso da radioterapia conformacional (chamada radioterapia tridimensional conformacional ou 3D-CTR) e o seu aperfeiçoamento (radioterapia tridimensional com intensidade modulada ou 3D-IMRT), que buscam atingir melhores resultados com menores efeitos colaterais. Outra forma de radioterapia é a braquiterapia, que consiste no implante de sementes radioativas (mais comumente iodine-125 ou paladium-103) diretamente dentro da próstata. Podem ser colocadas através da pele da região perineal e podem ser permanentes (quando não são retiradas) ou temporárias. A braquiterapia busca amenizar os efeitos colaterais da radioterapia que vem de fora (externa) com uma menor taxa de complicações quando comparada com outras formas de tratamento radioterápico.


3- Tratamento hormonal: Usado de forma contínua quando não há indicações para tratamento cirúrgico ou radioterápico ou de forma conjugada com esses métodos, temporariamente, para melhorar os resultados no controle da doença. O câncer de próstata é um câncer dependente do hormônio masculino. É como se a testosterona, hormônio produzido pelo homem, funcionasse como combustível para o crescimento do tumor. O tratamento hormonal consiste então na suspenso de produção de testosterona ou no bloqueio da sua ação. Isso pode ser conseguido de modo permanente ou temporário. As medicações utilizadas (os antiandrogânicos, os análogos de GNRh) podem ser suspensos e tem ação reversível, ao passo que a cirurgia para retirada do tecido produtor de testosterona (tecido testicular), chamada de orquiectomia, é definitiva.


4- Tratamento de observação: Literalmente é o esperar para ver. O seu médico, após avaliar rigorosamente o estágio do câncer, o grau de agressividade e a idade do paciente, pode decidir por apenas observar a doença, apenas indicando tratamento quando houver sinais de progressão rápida da doença. Esse tratamento baseia-se em pesquisas que comprovaram que até 70% dos homens que morreram após 80 anos de idade por outras doenças, quando submetidos a estudos de sua próstata após necropsia, apresentaram focos de câncer no órgão sem que eles ou seus médicos soubessem. O tratamento de observação geralmente é indicado em casos bem selecionados, para pacientes mais idosos com tumores pouco agressivos e com contraindicação para as outras terapias.


5- Quimioterapia convencional: Consiste na introdução endovenosa de medicações quimioterápicas que vão atuar do mesmo modo que nos outros tipos de tumores e com efeitos colaterais semelhantes. Há pouco tempo não existia nenhum benefício com o uso dessas medicações devido ao elevado índice de complicações e pouca melhora para o paciente.

 

Recentemente algumas novas drogas foram lançadas no mercado, conseguindo alguns benefícios em termos de melhora qualidade de vida com a doença. Outros tipos de quimioterápicos tem ação no tratamento de metástases ósseas visando bloquear a progressão do câncer e tratar a dor associada.

Entre as medicações com esse fim anunciadas mais recentemente, ganhou muito destaque na média a aprovação pelo órgão americano regulador de medicações (FDA) da chamada vacina contra o câncer de próstata (Nome comercial: Provenge). Na realidade não se trata de uma vacina, visto que ela foi aprovada para o tratamento de homens com câncer avançado de próstata que não responderam ao bloqueio hormonal. Quando se fala em vacina, espera-se uma substância que previna o surgimento de uma doença, mas não é esse o caso. Os pacientes tratados com esse fármaco tiveram uma sobrevida maior de 4 meses em relação aos pacientes que foram tratados com placebo (produto sem eficiência usada em pesquisas). Essa medicação tem custo elevadíssimo (98 mil dólares) e ainda não foi aprovada para uso no Brasil. Seu mérito consiste na visualização da possibilidade de tratamento efetivo do câncer de próstata através de medicações que agem no sistema imunológico, dando ênfase ao tratamento no qual nosso próprio corpo é estimulado a destruir apenas as células tumorais, poupando as células saudáveis.

A câncer de próstata é uma doença com muitas variáveis. Na decisão do tratamento pesam inúmeros fatores. Quando falamos em cura, falamos de cirurgia. As comparações entre cirurgia e outros métodos chamados curativos (radioterapia) não são possíveis. Vários trabalhos científicos demonstram que é muito difícil tentar uma comparação entre a cirurgia e a radioterapia quando falamos em cura da doença. Os estudos de Gretze (2002), Nilsson (2004), Lu Yao Yao (1997) e vários outros demonstram que a cirurgia é o melhor método de tratamento a longo prazo quando se fala em cura.

Portanto, somente uma conversa honesta e aberta sobre o que você pode conseguir e o que esperar do tratamento irá ajudar-lhe na decisão sobre o tipo de terapia a ser utilizada. E lembre-se: nem sempre o mais novo e o mais caro significa o melhor.

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